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O artigo analisa a atuação da Igreja Católica no período do Brasil Colônia, em referência à pessoa do negro escravizado e sua imposta adesão à religião pelos sacramentos católicos. Realça vozes de intelectuais que colocam em suspeição a ideia de o catolicismo ter tratado a questão negra com humanização, subvertendo a lógica dos mecanismos de poder que legitimam o racismo estrutural. Primeiro, apresenta a noção de dispositivo à luz de Michel Foucault. Em seguida, identifica a religião/sacramento como dispositivo de poder nos códigos das Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia (normativas eclesiásticas em exercício de 1707 a 1899). Conclui refletindo o discurso católico estruturado em interpretações raciais que coisificaram o negro, nutriram o sistema escravocrata e "abençoaram" uma visão negativa das características étnicas que lhe são próprias. Assim, faz-se oportuno revisitar esses aspectos históricos para entender fenômenos recentes e aurir possíveis mudanças institucionais e éticas nas estruturas eclesiais e sociais brasileiras.