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<jats:p>Este artigo analisa e fomenta reflexões sobre dois momentos históricos e suas respectivas fontes acerca da não distribuição equitativa de terras no Brasil, a perpetuação da concentração agrária e sua relação com grupos sociais e religiosos que a questiona e produzem o conflito que é uma das características da agenda nacional brasileira. A relação com o catolicismo a partir dos grupos que possuem uma interface com a questão agrária é um eixo temático que conecta os dois períodos da história recente do Brasil, seja no período da ditadura militar (1964-1985) a partir da investigação nos arquivos abertos do Serviço Nacional de Informação (SNI) ou no século XXI considerando a pesquisa de campo em evento católico vinculado a Comissão Pastoral da Terra, organizado no interior do catolicismo liberacionista brasileiro na atualidade: a romaria da terra. Os simbolismos das romarias, além de sua especificidade de representar e relembrar os episódios de luta pela terra, marcam a sua luta por uma sociedade mais justa. O caráter contestatório que tais manifestações religiosas podem ter contra o latifúndio, e o papel desempenhado pela CPT para auxiliar na organização dos camponeses, fez com que fosse vigiada pelos órgãos de segurança durante a ditadura militar brasileira (1964 – 1985). A triangulação das informações e dados decorrentes da pesquisa documental e de campo, associam e identificam membros da Igreja Católica Apostólica Romana, como protagonistas e lideranças da Comissão Pastoral da Terra (CPT) dos estados do Paraná e Santa Catarina. Identificamos que os sujeitos religiosos produziram ações que foram vigiadas pela ditadura militar (1964/1985), bem como, permitiram na atualidade uma reelaboração da memória social, religiosa e política como estratégia de enfrentamento da concentração agrária brasileira.</jats:p>